Sunday, September 27, 2015

About to finish the Technical Course | A terminar o Curso técnico

Dear friends, it's been over two years since I last wrote in this blog. After all this time I actually lost a few blog-managing skills, as I just found I had 40 messages waiting for aproval. I'm so sorry, I will try to answer them as soon as possible.
I'm about to finish my technical lute course, so this semester is devoted to preparing my final recital. A bit too soon if you ask me, but it has to be, as next year I'll be doing mostly lute songs with singers.
In a way, I'm playing some of the most difficult lute pieces ever written, so I'm still a little unsure of myself. Nothing like playing the pieces you studied a year before. But other things happened, like a growing interest in lute making (I spent one month in Portugal with my favourite luthier Orlando Trindade, learning the basics, if I decide to start) and an opportunity to finish my renaissance lute method, now in collaboration with my teacher. We might decide to sell it later. We'll see.
Again, thank you so much to all readers and if you sent any message, we'll talk soon. Luís

(Português)
Querid@s amig@s, passaram mais de dois anos desde que escrevi por última vez neste blog. Após todo este tempo, realmente perdi algumas capacidades de gerenciamento do blog, pois acabei de encontrar 40 mensagens por aprovar. Peço desculpas, tentarei responde-las o mais rápido possível.
Estou a terminar o curso técnico de alaúde, por isso este semestre é dedicado à preparação do meu recital de formatura. Um pouco cedo, se me perguntarem, mas tem de ser, já que para o ano estarei principalmente a acompanhar cantores de lute songs.
De certa maneira, estou agora a tocar algumas das peças de alaúde mais difíceis que já foram escritas, por isso ainda estou um pouco inseguro. Não há nada como tocar as peças que estudámos um ano atrás. Mas outras coisas aconteceram também, como o meu interesse crescente pela construção de alaúdes (passei um mês em Portugal aprendendo o básico com o meu luthier favorito, Orlando Trindade, caso decida começar) e a retomada do trabalho no meu método de alaúde renascentista, agora em colaboração com o meu professor. Talvez possamos decidir vende-lo mais tarde. Vamos ver.
Mais uma vez,  muito obrigado a todos os leitores e se enviou alguma mensagem, falaremos em breve. Luís

Thursday, March 28, 2013

New phase begins | Nova fase começa

It's been a few months since I last wrote. This happened for two reasons: first because the new blogger site changes bothered me a lot, but also because after all these years of writing this blog, I realized that the goals that I set were achieved. In late 2007 I sent 50 emails to artists, publishers, music schools, luthiers and teachers to unveil the mysteries of a family of instruments that spoke directly to my heart. I received only two answers, interestingly two of the artists I admire the most in the world. So I decided to make this information path alone and make it known to a wider and less elitist audience. I did historical research, I spoke about my experiences, my ups and downs, interacted with readers and made a lot of people discover lute music. Many of my acquaintances today seek classical music CDs and lute concertos near their areas of residence. I met music people through it, people from my daily life and possibly people connected to my musical future. Definitely, the objectives of this blog have been achieved. Thus, today a new phase in this blog begins. Thank you all!

(Português) Passaram-se alguns meses desde que escrevi pela última vez. Isso aconteceu por dois motivos: primeiro porque as novas alterações do site do blogger me incomodaram bastante, mas também porque ao fim destes anos de escrever neste blog, apercebi-me que os objectivos a que me propus foram atingidos. No final de 2007 enviei 50 emails a artistas, editoras, escolas de música, luthiers e professores, na busca por desvendar os mistérios de uma família de instrumentos que me falava directamente ao coração. Recebi somente duas respostas, curiosamente de dois dos artistas que mais admiro no mundo. Então decidi eu mesmo trilhar esse caminho de informação e dá-lo a conhecer a um público mais vasto e menos elitista. Fiz investigação histórica, falei sobre as minhas experiências, os meus altos e baixos, interagi com leitores e fiz muita gente descobrir a música de alaúde. Muitos conhecidos meus vão hoje procurar CDs de música clássica e alaúde e concertos próximo a suas áreas de residência. Conheci gente da música através dele, gente do presente e possivelmente gente ligada ao meu futuro musical. Definitivamente, os objectivos deste blog foram cumpridos. Dessa maneira, inicio hoje uma nova fase neste blog. Obrigado a todos!

Thursday, October 11, 2012

Renaissance Lute Classes Available | Aulas de alaúde renascentista disponíveis

This week I finally finish my personal method of renaissance lute and vihuela, created during five years as student of EMB – School of Music of Brasilia. I leave open my availability to give private classes to beginner students in the Federal District Area – Brazil, until 2015, and occasional classes in Portugal or other regions of Brazil by pre-arranged schedule or as possible. In 2015 I’ll finish my lute studies and master degree in Musicology at the University of Brasilia, becoming available at that time to start a dialogue with teaching institutions, of any language.

Contact: Luís Maciel
lutetheinstrument@gmail.com

(Português)
Termino esta semana o meu método pessoal de alaúde renascentista e vihuela, criado ao longo de cinco anos como aluno da EMB - Escola de Música de Brasília. Deixo em aberto a minha disponibilidade para dar aulas particulares a alunos iniciantes na área do Distrito Federal – Brasil, até 2015, e aulas pontuais em Portugal ou outras regiões do Brasil conforme possibilidade de agenda e combinação prévia. Em 2015 terminarei os meus estudos de alaúde e mestrado em Musicologia na Universidade de Brasília, ficando a partir desse momento disponível para dialogar com instituições de ensino, independentes da língua.

Contacto: Luís Maciel
lutetheinstrument@gmail.com

Thursday, July 26, 2012

Revisiting Santiago | Revisitando Santiago

I don’t know about much of the world, and probably not even 10% of what I wanted, but from what I know, I highlight Santiago de Compostela as one of the cities I love most. Being back to Portugal and on vacation, I decided to take a two days trip to that capital-city of Galicia, situated north of the Portuguese border with Spain. Santiago is a monumental city, an UNESCO World Heritage Site and it is a city that I associate very closely to music.
Perhaps because of the huge number of tourists from all over the world, this time Santiago didn’t looked like the center of Galician Celtic culture center that I had known on other trips, full of souvenir shops selling Carlos Núñez and Luar na Lubre CDs. At other times, I remember discussing regional policy on small coffee shops and being asked to speak Portuguese, instead of trying to speak Castilian, because Galician and Portuguese are dialects born of the same ancient language called Galician-Portuguese, in which the first minstrels and lutenists composed, as is the case of Martin Codax.
Despite the excess of tourists, it takes just a walk around the city to experience its magic. The medieval streets, the granite walls, the many towers and arches, and above all the magnificent cathedral, give me a huge desire to play pieces from the Iberian Golden Age vihuelists, right there on every corner, in every coffee shop or in each church. The sound of bagpipes heard throughout the city, the environment of nearby mountains and the faces of local people, remind me who I am, whisper in my ear that I also belong to something bigger and ancient than we were transmitted by blood and culture.
During one of the nights I was awakened by one of my favorite sounds: the bells of the cathedral or a church nearby chiming the evening hours. I opened the window and stood there in the cold of the night observing the roofs and towers, as well as all the seagulls that perch on them overnight. I wish I could do one day as the seagulls and perch in Santiago, as lute performer or teacher.
Good morning, new semester!

(Português)
Não conheço grande parte do mundo e, provavelmente, nem sequer 10% daquilo que gostaria, mas de entre aquilo que conheço, destaco Santiago de Compostela como uma das cidades de que mais gosto. Estando de volta a Portugal e em férias, resolvi dar um salto de dois dias a essa cidade-capital da Galiza, situada a norte da fronteira portuguesa com a Espanha. Santiago é uma cidade monumental, está classificada pela UNESCO como Património da Humanidade e é uma cidade que eu associo muito intimamente à música.
Talvez pela enorme quantidade de turistas oriundos de todo o mundo, Santiago desta vez não me pareceu o centro galaico de cultura celta que eu conhecera em outras viagens, cheio de lojas de recordações vendendo CDs de Carlos Núñez e Luar na Lubre. Em outras alturas, lembro-me de se discutir política regional em pequenos cafés e de nos pedirem para falar português, em vez de tentar o castelhano, porque o galego e o português são dialectos nascidos da mesma língua antiga chamada de galaico-português, na qual os primeiros jograis e alaúdistas compunham, como é o exemplo de Martim Codax.
Apesar do excesso de turistas, basta uma volta pela cidade para sentir a sua magia. As ruas medievais, as muralhas graníticas, as muitas torres e arcos e, sobretudo, a magnífica catedral, dão-me uma enorme vontade de tocar peças de vihuelistas do Século de Ouro ibérico, ali mesmo, em cada esquina, em cada café ou dentro de cada igreja. O som das gaitas-de-foles que se ouvem pela cidade, o enquadramento das montanhas próximas e os rostos das pessoas locais, recordam-me quem sou, segredam-me ao ouvido que também eu pertenço a algo maior e mais antigo que nos foi transmitido pelo sangue e pela cultura.
Durante uma das noites, fui acordado por um dos meus sons preferidos: os sinos da catedral ou de alguma igreja das proximidades a repicar as horas nocturnas. Abri a janela e fiquei ali ao frio da noite a observar os telhados e as torres, assim como todas as gaivotas que nelas pousam para pernoitar. Quem me dera a mim fazer um dia como as gaivotas e pousar em Santiago, como executante ou professor de alaúde.
Bom dia, novo semestre!

Wednesday, April 11, 2012

Unlikely Music | Músicas improváveis

In 2004, while on an introspective travel to rethink my life, I saw one of the most beautiful and amazing things.
While walking the streets of Prague in the Czech Republic, I started hearing Mozart in the air. I strayed from the original path to approach the place from where the sound came, and I reached a square, which unfortunately I did not fix the name, where loudspeakers were emanating the music. To be under the known "Mozart effect" in that beautiful place made a profound impact on me that I always share that experience with friends.

This week, while walking through a less sophisticated area of Brazil’s capital - where two musical genres of questionable taste coexist – Country duos and street funk - I heard a person of humble aspect whistling the tune of "Greensleeves", possibly the most famous melody from the Renaissance. It is amazing to note the time and space that this song has traveled to get in the memory of a simple person from the inland of Brazil.
This proves that Early music is really accessible to everyone and that even people who can’t afford to buy CDs nor education to find live classical music performances, are equally impacted by its magic and for its instant time machine.

(Português)
Em 2004, ao fazer uma viagem introspectiva para repensar a minha vida, vi uma das coisas mais lindas e espantosas. Ao andar pelas ruas de Praga, na Republica Checa, comecei a ouvir Mozart no ar. Desviei-me do caminho original para me aproximar do local de onde vinha o som, e cheguei a uma Praça, que infelizmente não fixei o nome, onde havia megafones emanando a música. Estar sob o conhecido “efeito Mozart” naquele local belíssimo fez um impacto tão profundo em mim que sempre partilho essa experiência com os amigos.

Esta semana, enquanto andava por uma zona menos sofisticada da capital do Brasil – onde dois gêneros musicais de gosto discutível coabitam – o sertanejo e o funk de rua – ouvi uma pessoa de aspecto humilde assobiar a melodia de “Greensleeves”, possivelmente a melodia mais famosa do Renascimento. É incrível constatar o tempo e o espaço que esta canção viajou para entrar na memória de uma pessoa simples do interior do Brasil.
Isto prova que a música antiga é realmente acessível a todos e que mesmo as pessoas que não têm dinheiro para comprar CDs nem educação para procurar concertos clássicos ao vivo, são igualmente impactadas pela sua magia e pela sua máquina do tempo instantânea.

Sunday, April 8, 2012

What’s “Basso Continuo” | O que é “Baixo Contínuo”

While I participate in the accompaniment of baroque singing together with other musicians, some friends from other areas of society ask me what "Basso Continuo" (Continuous Bass) is, as they listen to me speak about it or after reading titles of musical pieces. This question is much more common in people from non-Latin countries, as the expression clarifies itself for people of latin countries and is relatively intuitive for the lover of Classical / Early music.

The basso continuo is a key element of European music in the seventeenth and eighteenth centuries, which lasted in colonial Brazil until the mid-nineteenth century, even after the independence of that South American country. It is believed that it was born in the mid-sixteenth century, but it was in Italy around 1610 that it appeared in full.

Basso Continuo is an uninterrupted melodic line of bass, the lower-pitched of the whole composition, destined to sustain its tonality. In most cases, the composition has numerical notations – “Figured Bass” - under the musical notes, which enables the musician to be completed with full chords and allowing improvisation, according to the harmony. It is commonly performed by keyboard instruments like harpsichord and organ, or string instruments like lute, archlute, theorbo and harp, to which is added a viola da gamba or cello, doubling the bass line.

(I appreciate your help in improving the quality of my posts in English)

(Português)
À medida que participo no acompanhamento de canto do período barroco em conjunto com outros músicos, alguns amigos de outras áreas da sociedade perguntam-me o que significa “Baixo contínuo”, por ouvirem a expressão dita por mim ou por lerem nos títulos das peças. Esta dúvida é mais frequente em pessoas vindas de países não-latinos, pois para a própria expressão esclarece-se a si própria e é relativamente intuitiva para o amante da música clássica / Antiga.

O baixo contínuo é um elemento fundamental da música europeia nos séculos XVII e XVIII, que se prolongou no Brasil colonial até meados do século XIX, já depois da independência do país sul-americano. Acredita-se que tenha nascido em meados do século XVI, mas foi em Itália por volta de 1610 que apareceu em pleno.

Baixo contínuo é uma linha melódica de baixo, ininterrupta e a mais grave de toda a composição, destinada a suster a sua tonalidade. Na maioria dos casos, a peça tem indicação de cifras numéricas por baixo das notas, o que permite ao músico completar com acordes completos e permitindo a improvisação, de acordo com a harmonia. É comummente executado por instrumentos de teclas, como o cravo e o órgão, ou cordofones, como o alaúde, arquialaúde ou teorba e a harpa, a que se acrescenta, dobrando a linha de baixo, a viola da Gamba ou o violoncelo.

Thursday, April 5, 2012

10,000 visitors | 10,000 visitantes

I started this little blog in early 2008. At the start of that year, I sent 50 emails to famous artists, luthiers, producers, National music schools and other people connected to the lute. I only received two responses back, and my personal search for technical and historical details of this family of instruments was the impulse for creating this blog.
This week, the blog reaches 10.000 visits from 87 countries, which is a significant mark for such a restricted subject. Through it I told some stories, published my own historical researches, and shared my enthusiasm for the lute as I studied the first four and a half years at the School of Music of Brasilia. Some more people became lute music admirers through it, and I know people who buy lute music after reading articles published here. That makes me really happy and with the feeling that I fulfilled the objective for which I proposed. Thank you very much everybody.

(Português)
Comecei este pequeno blog no início de 2008. Em finais do ano anterior, tinha enviado 50 emails para artistas famosos, luthiers, produtoras, conservatórios e outras pessoas ligadas à música deste instrumento. Recebi apenas duas respostas de volta, e a procura pessoal sobre detalhes técnicos e históricos desta família de instrumentos foi o impulso para a criação deste blog.
Esta semana, o blog atinge as 10,000 visitas, de 87 países, o que é uma marca significativa para um tema tão restrito. Através dele contei algumas histórias, publiquei investigação histórica própria, partilhei o entusiasmo pelo alaúde enquanto estudei os primeiros quatro anos e meio na Escola de Música de Brasília. E entusiasmei mais algumas pessoas. Conheço pessoas que compram música de alaúde depois de terem lido artigos publicados aqui. Isso deixa-me realmente feliz e com sentimento que cumpri duplamente o objectivo a que me propus. Muito obrigado a todos.

Monday, February 27, 2012

The generation of 1500 | A geração de 1500

The turn of the fifteenth century to the sixteenth saw the birth of a number of important personalities in history and music history. It was in the height of Renaissance and the Western world had just been connected with India by sea, sailing around Africa as the Portuguese navigator Vasco da Gama did in 1497. It was also a time of Humanism (see "Renaissance and Melancholy" article), an era of knowledge and maritime exploration, though haunted by the persecutions of the Inquisition and the Catholic Church.

In the year of 1500 is born the future Emperor Charles V, who would be master of most of Europe, the so-called Europe of the Habsburgs. He also inherits all the immensity of the Spanish colonial New World, a new continent which is discovered by the Portuguese navigator Pedro Alvares Cabral precisely in that year. Simultaneously, another Portuguese, Diogo Dias, discovers Madagascar.

In music, only in Spain are born the polyphonist Cristóbal de Morales and the vihuelists Miguel de Fuenllana, Luis de Milán, Luis de Narváez and Enríquez of Valderrábano. In the context of the newly implemented Catholic fundamentalism, these were the personalities that gave rise to the famous "Spanish Golden Age" sound, influencing future generations of composers like Tomás Luis de Victoria, Pedro de Escobar and Frei Manuel Cardoso, among others.


(Português)
A viragem do século XV para o XVI viu nascer uma série de personalidades importantes para a história e para a história da música. Estava-se em plena Renascença e o mundo ocidental acabara de ser conectado por mar com a Índia, navegando à volta de África como o fez o navegador português Vasco da Gama em 1497. Vivia-se também em pleno humanismo (ver artigo “Renascença e Melancolia”), uma era de conhecimento e exploração marítima, ainda que assombrada pelas perseguições da Inquisição e da Igreja Católica.

No ano de 1500, nasce o futuro imperador Carlos V, que seria senhor de grande parte da Europa, a chamada Europa dos Habsburgos. Herda também toda a imensidão colonial espanhola no Novo Mundo, um novo continente que é descoberto pelo navegador português Pedro Álvares Cabral precisamente nesse ano. Simultaneamente, outro português, Diogo Dias, descobre Madagascar.

Na música, só em Espanha nascem o polifonista Cristóbal de Morales e os vihuelistas Miguel de Fuenllana, Luis de Milán, Luis de Narváez e Enríquez de Valderrábano. No contexto do fundamentalismo católico recém-implantado, estas foram as personalidades que deram origem ao famoso som do “Século de Ouro Espanhol”, influenciando futuras gerações de compositores como Tomás Luis de Victória, Pedro de Escobar e Frei Manuel Cardoso, entre outros.

Wednesday, February 22, 2012

Website | Cecília Aprigliano

Today I present Cecília Aprigliano's new site . The brazilian gambist is founder of the group "Estúdio Barroco" and teacher of the viola da gamba at the Music School of Brasília, having performed in numerous concerts throughout the country and abroad as a soloist and as a teacher.
http://www.ceciliaprigliano.com.br/

(Português)
Hoje apresento o novo site de Cecília Aprigliano. A gambista brasileira é fundadora do agrupamento "Estúdio Barroco" e professora de viola da gamba na Escola de Música de Brasília, tendo se apresentado em inúmeros concertos por todo o país e estrangeiro como solista e como docente.
http://www.ceciliaprigliano.com.br/

Friday, February 17, 2012

Holidays - Lisbon, a city of tolerance | Férias - Lisboa, cidade da tolerância

I’ve been in Lisbon for fifteen days to visit relatives. It was difficult to deal with the dry cold coming from Central Siberia, and incredibly, surrounded by the Atlantic Ocean and the majestic River Tagus, I felt no signs of moisture. So I seized the opportunity to remember some sights and enjoy one of the best cuisines in the world, but also to explore into that which was the capital of the western world for about one hundred years.

Taking the subway, I arrive to Martim Moniz, a square where many foreigners, especially Muslims are. The square owes its name to Martim Moniz, a soldier who died trapped in the city gates, allowing the entry of Christians in the Muslim bastion in 1147. On both sides of the square, underground shopping centers full of Chinese stores and Indian markets. On the path to Rossio Square there’s the Saint Domingos Square, infamous for the 1506 pogrom, where today many Africans and Eastern Europeans are. Without effort, as I contemplate the old city and the magnetic Tagus River, comes to mind the music of Driss El Maloumi, sixteenth-century vocal and vihuela polyphony, the medieval Christian and Sephardic dances, but also the Fado. No wonder that Lisbon was called until around 1500, as the city of three cultures: Christian, Moorish and Sephardic (Iberian Jewish).

From 1496 to 1506, while Portugal was approaching its apogee and the status of unchallenged Western power, at the same time plants the seed of its downfall. In 1492, the kingdom of Granada falls and the Spanish Inquisition inaugurates its reign of terror against freedom, minds and beliefs. Thus, 93,000 additional Jews, and also Mozarabic and Moors are expelled and settle in Portugal, increasing their communities. However, in 1496 the new Portuguese king Dom Manuel I married Isabella I of Castile and is pressed by the Spanish Catholic kings also to expel the Jews from Portuguese territory. Dom Manuel did not want to do that, but he is hostage to diplomacy and the growing power of the Inquisition. The lower-class Christians are target of increasingly fanatical and violent rhetoric of the Catholic Church since the thirteenth century. The clergy also made multiple complaints to the Pope in Rome on Royal "tolerance" to other faiths. Thus, in 1497, Dom Manuel gives the possibility for Jews to convert to Catholicism, trying to keep them in the most vital sectors of Portuguese society. Some do it, thence being called "New Christians", others maintain their faith in secret and would survive the diabolical persecution of the Inquisition, which is introduced in Portugal in 1536. But the most part, like most of the Moors, who still retained their identity before the Christian Reconquista. Their emigration permits consisted of payment of ransom to the Crown, abandonment of properties or sale at ridiculous prices, taking just a little hand luggage.
This historical event culminates in April 1506 when a small crowd of 500 people instigated by three Dominican friars (who are later executed by the king) increased by Dutch sailors coming from the docks, chased, attacked and killed 4000 Jews during three days, until they began to understand that even Christians and the squire of the King had been assassinated in the frenzy.

In this wave of hatred and intolerance almost all of the great minds Portuguese in the sciences, letters, economics and finance and other areas disappear. Street music (which later is transformed into fado) disappears with the persecuted Moors and Mozarabic, only surviving in the neighborhoods of labyrinthine Moorish quarter and Alfama. The Lute is banned for being “dangerously muslim”.
As a result, the full range of merchants and families from all the countries of Europe, the Ottoman Empire and the Muslim world leave the city, turning out the light that illuminated it for 100 years. The City has never been the same. Often without knowing it, fado music today sings about the loss of the society that forged a trade and colonial empire, one of the most remarkable cultural identities in the world and that "discovered new worlds" before falling into the long economic, scientific, and moral downfall that still today makes us feel a sense of emptiness or sadness that many attribute to the colonial empire, but that I humbly attribute to our own historical awareness and the voice of our blood.

I prepare my musical future diving in these three cultures that make up most of the Portuguese DNA doing my part to a cultural revival of the golden times of the City. In the week when the Portuguese prime minister was compared by some commentators to Goebbels, I hope that Lisbon re-ignite its light and always be ... City of Tolerance.










(Português)
Estive quinze dias em Lisboa para visitar familiares. Foi difícil lidar com o frio seco vindo da Sibéria Central, e incrivelmente, cercado pelo Oceano Atlântico e pelo majestoso Rio Tejo, não senti sinais de humidade. Aproveitei para recordar algumas paisagens e saborear uma das melhores gastronomias do mundo, mas também para explorar aquela que foi a capital do mundo ocidental durante cerca de cem anos.

Tomando o metro, chego ao Martim Moniz, uma praça onde muitos estrangeiros, sobretudo muçulmanos se encontram. A praça deve o seu nome a Martim Moniz, um soldado que morreu entalado nos portões da cidade, possibilitando a entrada dos cristãos no bastião muçulmano em 1147. Dos lados, centros comerciais subterrâneos repletos de lojas chinesas e mercados indianos. A caminho da Praça do Rossio encontra-se o largo de São Domingos, tristemente famoso pelo Pogrom de 1506, onde hoje muitos africanos e europeus de leste se encontram. Sem esforço, enquanto contemplo a velha cidade e o magnético Rio Tejo, vem-me à cabeça a música de Driss El Maloumi, a polifonia quinhentista vocal e de vihuela, o medieval cristão e as danças sefarditas, mas também o Fado. Não era à toa que Lisboa era chamada até por volta de 1500, como a cidade das três culturas: cristã, mourisca e sefardita (judaica ibérica).

De 1496 a 1506, ao mesmo tempo que Portugal se aproximava do seu apogeu e estatuto de potência ocidental incontestada, planta simultaneamente a semente da sua queda. Em 1492, cai o Reino de Granada e a Inquisição Espanhola inaugura o seu reino de terror contra liberdades, mentes e credos. Desse modo, 93 mil judeus adicionais, e também moçárabes e mouros são expulsos e estabelecem-se em Portugal, vindo a aumentar as respectivas comunidades. No entanto, em 1496 o novo rei português D. Manuel I casa-se com Isabel I de Castela e é pressionado pelos reis católicos para expulsar também os judeus de território português. D. Manuel não quis fazer isso, mas é refém da diplomacia e do crescente poder da Inquisição. Os cristãos de classe mais baixa são alvo da retórica crescentemente fanática e violenta da Igreja Católica desde o século XIII. O próprio clero faz múltiplas queixas ao Papa em Roma sobre a “tolerância” real às outras fés. Assim, em 1497, D. Manuel dá a possibilidade aos judeus de se convertem ao catolicismo, tentando mantê-los nos sectores mais vitais da sociedade portuguesa. Alguns fazem-no, sendo denominados de “cristãos-novos”, outros mantêm a sua fé em segredo e vão sobrevivendo à diabólica perseguição da Inquisição, que é introduzida em Portugal em 1536. Mas a maioria parte, assim como a maioria dos mouros que ainda mantinham a sua identidade anterior à Reconquista. As suas autorizações de emigração consistiam no pagamento de resgate à Coroa, abandono de propriedades ou venda a preços irrisórios, levando apenas pouca bagagem de mão.
Este momento histórico culmina em Abril de 1506, quando uma pequena multidão de 500 populares instigada por três frades dominicanos (que mais tarde D. Manuel manda executar) aumentada por marinheiros holandeses vindos do cais, perseguem, atacam e assassinam 4000 judeus, durante três dias, até começarem a entender que até cristãos e o próprio escudeiro do Rei já tinham sido assassinados no frenesim.

Nessa onda de ódio e intolerância desaparece quase a totalidade das grandes mentes portuguesas nas ciências, nas letras, na economia e finança entre outras áreas. A música de rua (que mais tarde dá origem ao fado) desaparece com os mouros e moçárabes perseguidos, só sobrevivendo nos bairros labirínticos da Mouraria e Alfama. O alaúde é banido por ser “perigosamente muçulmano”.
Na sequência, toda a variedade de mercadores e familiares de todos os países da europa, império otomano e mundo muçulmano deixam a cidade, apagando a luz que a iluminara durante 100 anos. Nunca mais foi a mesma. Muitas vezes sem saber, hoje a música fado canta a perda dessa sociedade que forjou um império comercial e colonial, uma das identidades culturais mais marcantes do mundo e que “descobriu novos mundos” antes de cair no longo declínio econômico, científico, moral que ainda hoje nos faz sentir o sentimento de vazio ou de tristeza a que muitos atribuem ao império colonial, mas que eu humildemente atribuo à nossa própria consciência histórica e da voz do nosso sangue.

Preparo o meu futuro musical mergulhando nestas três culturas que compõem a maioria do ADN português fazendo a minha parte para um resgate cultural dos tempos áureos da história da Cidade. Na semana em que o primeiro-ministro português foi comparado por alguns comentadores a Goebbels, faço votos para que Lisboa volte a acender a sua luz e seja sempre...cidade de Tolerância.